quarta-feira, 8 de outubro de 2008

d'A Nudez

Olhou para os olhos cinzentos da outra. A luz batia, laranja-escuro, no corpo de ambas. Miravam-se como miragens aos seus corações e encontravam-se; n'algum lugar que não ali. Quebrei o silêncio e disse, com alguma vergonha de inciante, um segredo. Não consigo ficar nua se não o fizer também com a alma. E é essa a minha verdade que ela escutou como quase não sendo. Talvez quisesse mesmo fazer do pedaço de pano, uma armadura de ferro - e fogo! - para a alma... Talvez.
Esqueci-me do que dizia, e por isso acho que falei demais. Falei e falei e contei: contigo a minha vontade é de arrancar-me a roupa e deitar olhando o seu olhar.
E ela, como quem é desafiada - mas sem manter a pose, a serenidade e algo que não saberia denominar, mas que pode-se dizer que era uma felicidade exêntrica; um sorriso raro e único - e então ela tirou a blusa, o sutiã e deitou-se calma em meu colo. Repeti o gesto em silêncio. Talvez apenas os gritos slenciosos e a minha pequena risada tenham quebrado a seriedade daquele ritual. E era mesmo muito importante. Ela cubriu-me e, feliz, disse-lhe:
- Gosto de quando me cobre assim.
- Mas se eu te cubro, você não está mais nua...
- Estou. Só pra você.

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